Sexta-feira, Fevereiro 26, 2010
Este estranho fado...
Numa altura em que vou ter de encontrar novas coordenadas para a minha vida pessoal, dou por mim a escutar os melhores exemplares desse estilo musical que s� existe c�, e que se chama fado. N�o gosto de abusar dos fados coimbr�es, extremamente melanc�licos, porque sen�o sinto a minha alma a esmorecer. Mas, por vezes, � mesmo necess�rio ! Por detr�s de figuras de vulto como Am�lia ou Carlos Paredes, qual ser� a raz�o para s� em Portugal existir este estilo musical !?
Muitos das nossas grandes figuras liter�rias, desde Cam�es e principalmente Pessoa, sempre se interrogaram, na procura de uma defini��o do ser portugu�s. � um facto que somos um povo com uma identidade cultural extremamente forte, amadurecida ao longo dos nossos quase 800 anos de hist�ria. Ao contr�rio dos nossos vizinhos espanh�is, que na realidade se sentem mais andaluzes, galegos ou bascos do que propriamente "espanh�is", n�s tugas, andamos �s vezes em batatadas e brigas de bairro Norte/Sul, ou do Continente contra as ilhas, mas que n�o passam disso mesmo, apenas simples demonstra��es de for�a sem inten��o verdadeira de magoar, mas acabamos por amar-nos todos uns aos outros,e se calhar foi isso que se calhar impediu o derramamento de sangue no 25 de Abril de 1974.
Mas estou a dispersar-me do assunto que me levou a querer iniciar esta publica��o: o que nos leva, portugueses, a evocar momentos tristes de forma t�o bela e espirituosa. Ser� a nossa linguagem ? Temos tanta hist�ria, uma hist�ria de 800 anos, mas ser� realmente mais pontuada por momentos tr�gico/dram�ticos do que felizes ? � por isso que cinco oitavos da nossa bandeira s�o da cor de sangue, para evocar essas trag�dias ? J� nos demos ao luxo de dividir o mundo ao meio, com os espanh�is, mas actualmente volt�mos ao nosso cantinho � beira-mar plantando, mantendo apenas as ilhas da Madeira e A�ores como nossas como �nicos vest�gios da nossa fase �pica. A afirma��o da portugalidade ter� de ser feita atrav�s da nossa l�ngua, que est� no "top ten" das l�nguas mais faladas em todo o mundo!
Parecemos estranhamente fadados a que os nossos momentos de felicidade sejam de extrema curta dura��o, porque tivemos o p�ssaro na m�o e deix�-mo-lo fugir, no s�culo XVI, se calhar porque nunca fomos muitos em n� de habitantes. Mas apesar disso, estivemos em todo o lado, atingimos o Brasil, a �ndia, a Indon�sia, China, Jap�o e ro��mos a Austr�lia. Mas �ramos poucos para poder manter tanto territ�rio na nossa posse. N�o quero ser profeta do "Quinto Imp�rio", como Pessoa, mas realmente, este sentimento de pessimismo (ou de autocomisera��o nacional, como lhe prefiro chamar), � praticamente gen�tico. Estamos sempre a falar mal uns dos outros e de n�s pr�prios, e a rebaixar-nos perante as outras na��es, a copiar o que invejamos nos outros povos, desde o n�vel de vida dos escandinavos at� ao samba brasileiro, ou mais recentemente, o Halloween dos povos angl�fonos. Tudo corre mal, e vai sempre no mau caminho, e os momentos de felicidade deste pa�s s�o sempre muito curtos, tal como o pequeno empurr�o que a entrada na CEE a partir de meados da d�cada de 8o, pautado pelos governos do senhor que agora � inquilino do Pal�cio de Bel�m. O facto do territ�rio conquistado aos mouros desde Afonso Henriques at� ao seu bisneto Afonso III na Pen�nsula parecer n�o ter sido suficiente para nos conter a todos como pessoas, como � nossa vontade, parece nos ter predestinado para sermos um povo de constante emigra��o. N�o temos muitos recursos naturais, como ouro, o verdadeiro de nome e o negro, que h� de muito noutras paragens, mas temos muitos outros recursos, talvez a vontade de n�o querermos deixar-nos vergar por este nosso estranho Fado, e de mostrar ao mundo que, afinal, depois de 800 anos, ainda aqui estamos, para levar e durar.
Vaiam por mim, experimentem: fado Tag Radio .
2 Comentários:
� Samuel, como voc�s mesmos dizem, no Brasil fala-se Brasileiro, sendo assim a l�ngua Portuguesa � falada por menos de 17 milh�es de pessoas. No m�ximo top 300 pra ela. LOL
Abra�os.
Est�s realmente apenas a constatar um facto inevit�vel. Se n�o fosse o Brasil est�vamos ao lado do island�s pra�.
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